quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Deixe-me deitar em seu colo mais uma vez; afague meus cabelos.

-“Pai? Pai? O senhor tá aí? Tá me ouvindo?”

Sabe, pai, não sabia como começar a escrever um texto dedicado inteiramente ao senhor – na verdade não sei até agora. As palavras me faltam, as pernas ficam bambas. É uma respiração que vai ficando ofegante e lágrimas que vem com força total mas são barradas antes de cair por minhas bochechas.
Esse último Dia dos Pais foi um dos mais difíceis desde que o senhor se foi. Minto, ele superou todos os outros em questão de saudade. A intenção, ao escrever este texto, não é emocionar ninguém, tampouco fazer drama do tipo “olha lá 'o-menino-sem-pai'”, aliás, o senhor sabe bem o quanto eu odeio que me vitimem ou me vitimar em relação a isso. A verdadeira intenção de reunir todas essas palavras que vim aprendendo ao longo dos anos aqui, é, acima de tudo, tecer um tapete de palavras para representar a conversa que há muito tempo não temos.
Acho que daí de cima, você tem acompanhado todas as minhas conquistas e todos os medos que vêm me assombrando por tanto tempo.
Eu gostei de te visitar no último sábado. Tava triste. Tirei o dia pra sair sozinho, sem ninguém. Dei férias de mim de 1 dia pros meus amigos. Fiquei pouco tempo, eu sei. Mas ah, valeu à pena pra gente poder trocar umas ideias legais né?! (rs) Falando em amigo, o que o senhor tá achando das minhas novas companhias? Já levei alguns pra te conhecer, e os outros, você deve ter visto por aí, sempre ao meu lado.
A mãe está bem, às vezes ela dá a louca lá em casa, mas é porque tem muita coisa na cabeça dela, né? Coitada. Foi barra pra ela deixar a vida de esposa e assumir a vida de “Mulher da Casa”. Ai ai, complicado.
A Karla está bem, ela é a mais dramática – como sempre né? (risos). Teve um filho, o Iaguinho, ele já foi lá te visitar e ainda é meio confuso com a história do senhor ter deixado a gente.
O Kleber tá bem também. Além da Lili, que já está uma moça e você chegou a conhecer, veio o Guilherme, super carinhoso. Acho que o senhor de divertiria bastante com os meninos. E eu, ficaria com muito ciúme, lógico.
Ah pai, eu estou bem. Terminei a escola aonde o senhor sempre quis e entrei na faculdade. Acho que o senhor iria adorar o fato de eu ter escolhido jornalismo, íamos conversar todos os dias. Vixe, fiz um intercâmbio também (e não adianta negar, sei que teve uma mãozinha aí de cima!). O Canadá é lindo e eu adorei, obrigado. E agora vem o melhor de tudo: estou trabalhando! Consegui um emprego, é emprego mesmo, não é estágio não, num jornal aqui da cidade. Fico imaginando a sua cara de orgulho ao ler minhas matérias, juro que fico. Ei pai, quase esqueci de contar, PASSEI NA UnB, mas calma, não se empolgue, já tranquei... Ah, não dava certo não, o curso de Letras não foi o que eu esperava e eu nem ia ficar me dedicando à toa.
Vezenquando eu fico lembrando daquelas tardes que a gente ficava em casa juntos, fazendo nada, lembra? Das vezes que a gente ia esperar minha irmã em algum lugar e ficávamos fazendo planos caso ganhássemos na loteria. Lembra do cachorro-quente que o senhor fez pra mim? Lembra que não tinha molho também? Rio sempre quando lembro disso. Quando iremos assistir outro jogo do Botafogo no estádio? Quando soltaremos pipa durante uma tarde inteira mais uma vez?
Lembro também do nosso último adeus. O fato vem à minha cabeça como se fosse ontem. Eu, na escada de casa, pronto pra ir pro shopping, e o senhor indo pro hospital, tão grande era a dor que te afligia.

Querido pai, sinto falta de nossas conversas. Sinto falta, hoje, de uma conversa de homem pra homem. Em breve nos encontraremos, enquanto isso, fique tranquilo que os meninos, os meus amigos, estão me tratando super bem e não me deixam faltar nada (quase nada). As pessoas comentam o quanto somos parecidos fisicamente e como minhas atitudes parecem com as suas.
Você foi sim meu herói meu bandido. Você foi quem mais me ensinou. É por causa do senhor que sou esse menino prestativo e preocupado com as pessoas. É também por influência sua que tento abraçar o mundo com meus dois braços e aguentar os problemas de todos em minha cabeça.

Dê um abraço em todos aí.
Se cuida, tá?!
Amo o senhor, saiba sempre disso.

Com amor,

Seu eterno companheiro e maior admirador, Paulo Pimenta.

P.S.: Agora que terminei de escrever esta carta, a lerei para o senhor, pois sei que estás ao meu lado neste exato momento.

Paulo Pimenta

5 comentários:

  1. Porque eu comento aqui e meus comentários somem? adorei o post"
    seguindo =*

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  2. Gostei muito do post. Pode ter certeza que onde quer que seu pai esteja ele está muito orgulhoso do filho que tem. :D

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  3. é nessas horas que a gente entende que, cedo ou tarde, as rédeas de nossas vidas ficam apenas em nossas mãos. Não há aflição que possa te tirar a paz, se vc sabe que Deus está ao seu lado.
    Seu pai tem orgulho de vc. E adivinha, nós também!! (me incluo nessa pq acredito que vc sempre está aonde tem que estar - e hoje eu estva na UnB e conheci vc.)
    Bem vindo, "calouro" ;)

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  4. É tão bonito ver essa manifestação de amor...Lembra Paulo quando seu pai nos levouu pro terraço para comemorar seu niver?? Tenho Orgulho de poder dizer q sou seu amigo desde aquela época..adoro ler seus textos..

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